29 setembro 2013

Hora do Conto






Viva o Outono




INTÉRPRETES – um Avô e dois netos

ANA – Que estás a fazer, Avô? Não ouves, Avô?
AVÔ – Quê?.. Estás aí?.. Estou a tocar, não vês?… Não ouves?
ANA – Bem vejo, bem oiço, mas não é tocar por tocar, deves estar a inventar…
AVÔ – É isso… Estou a ver se consigo inventar uma canção dedicada ao Outono…
ANA (Admirada) – Ao Outono, Avô?
AVÔ – Sim, ao Outono, gosto muito do Outono, é mesmo a estação de que mais gosto.
ANA (Mais admirada.) – Do Outono, Avô?
AVÔ – Sim, do Outono, porque não?… Tens alguma coisa contra o Outono?
ANA – Ai isso é que tenho!… Acabam-se as férias, começam as aulas.
AVÔ – Não tens razão… As férias também não podiam durar sempre, perdiam a graça.
ANA – Isso é verdade.
AVÔ – E voltar às aulas também é bom, vais aprender coisas novas, voltas a encontrar os teus colegas do ano passado, vais conhecer outros, vais fazer novas amizades… E há aqueles jogos, aquelas brincadeiras…
ANA – Isso é verdade.
AVÔ – Vês? Ainda bem que já começas a gostar um bocadinho do Outono, porque eu estava a contar contigo, estava e estou…
ANA – Para quê, Avô?
AVÔ – Para me dares uma ajudinha nesta canção.
ANA – É uma canção infantil, Avô?
AVÔ – Será ou não, depende da tua ajuda, veremos o que sai daqui.
ANA – Vou chamar o João… O meu irmão tem mais jeito para estas coisas.
AVÔ – Está bem, chama-o, mas não te dispenso, venham os dois…

O Outono
é uma estação muito bela, gosto dela.
Cai a folha amarela
cai no chão.
É no Outono que me apaixono, que me
abandono, que me impressiono, que me…
que me…

JOÃO (Interrompendo e gozando.) – Que me dá o sono, que ressono…
AVÔ – João, não me digas que também não gostas do Outono.
JOÃO – Gosto mais do Verão.
AVÔ – No Verão, está muito calor.
JOÃO – Vou para a praia.
AVÔ – Nem toda a gente pode ir para a praia.
JOÃO – Isso é verdade.
AVÔ – A Ana já me dá razão.
ANA – O Outono é um tempo mais calmo.
AVÔ – É isso mesmo…

O Outono é a calma
o Outono tem alma
é o tempo ideal.

Nem o fogo que abrasa
nem o frio de tremer
é a graça
é a asa
é o sal

é o riso
é o siso
é o mar
apetece cantar
apetece viver.

JOÃO (Interrompendo.) – Já está. Avô?
AVÔ – Era bom, era… Uma cantiga…
ANA (Concluindo.) – Tem muito que se lhe diga.
AVÔ – Até já rimas sem querer… É isso, tem que se lhe diga, mas, com a vossa ajuda, talvez se consiga alguma coisa de jeito.
JOÃO – No Outono também começam a aparecer os vendedores de castanhas com aqueles carrinhos muito giros…
ANA – … aquele calorzinho bom!
JOÃO – … aquele fumo que dá gosto!
ANA – E até há aquelas primeiras chuvas… A gente acha graça, saem das gavetas as capas, os carapuços…
AVÔ – E não sei se vocês já repararam que, depois dessas chuvas, fica um cheiro bom no ar.
JOÃO – Já reparei, sim, senhor… Cheira a terra.
ANA – É isso mesmo, cheira a terra molhada…
AVÔ – E, no Outono, há uma luz muito bonita, uma suavidade nos tons, nas coisas… (Retomando a canção.)

Proponho um trono
para o Outono
um sonho
uma canção.

O Outono é a estação da minha predilecção,
da minha adoração, da minha afeição, do meu
coração…

JOÃO (Interrompendo, gozando.) – Ão, ão, ão, ão, ão, ão…
AVÔ (Rindo.) – Estás aqui para me ajudar ou para me gozar?
JOÃO – As duas coisas, Avô.
AVÔ – Tinhas razão… Era “ão” a mais, parecia conversa de cão…
ANA – Um título giro seria talvez “Viva o Outono!”
JOÃO – Boa!… Vamos cantar o “Viva o Outono!”
AVÔ (Cantando.) – Viva o Outono / que é o tempo dos cantores
ANA (Interrompendo.) – Eu acho que é mais o tempo dos pintores… Há a tal luz muito bonita…
AVÔ – Pode ser dos pintores e também dos cantores… Porque não? Comecemos pelos pintores, para fazer a vontade à Ana.
Viva o Outono
que é o tempo dos pintores
tem luz
tem cores
tem harmonia…

JOÃO – E os cantores?
AVÔ – Vai de seguida… Talvez assim…

Viva o Outono
que é o tempo dos cantores
tem som
tem cores
tem poesia.

ANA – A coisa já começa a tomar forma.
JOÃO – O Avô é bestial!
ANA (Cantando.) – Viva o Avô que é o Outono em pessoa!
JOÃO (Interrompendo.) – Boa, essa é boa!
ANA (Prosseguindo.) –

O Avô ama o Outono
ama o Outono da vida
ama a vida
bem cantada
bem pintada
bem vivida…

AVÔ (Interrompendo.) – O Avô não é para aqui chamado.
JOÃO (Reatando a canção.) – Se o Avô é o Outono
acho o Outono bonito
é do Outono que eu gosto
eu quero
eu canto
eu pinto
eu grito
eu grito um viva ao Outono.

E eu dou
um viva ao Avô!

Carlos Pinhão

Maria Alberta Meneres (coordenação)
Histórias e canções em quatro estações – Outono
Lisboa, Lisboa Editora, s/d

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