31 agosto 2016

A Partilha

Existem coisas que faço questão de lhes transmitir.
O colocarem-se no lugar dos amigos, quando estão tristes,quando choram entre muitas outras sao alguns dos exemplos, fico sempre com sensação de dever compridonunca sei o que ficou do ensinamento ...até ter dias como este que vos conto!


Sou irremediavelmente APAIXONADA por eles e por tudo neles.
Mas tem dias que eles me surpreendem ou porque se zangam entre eles ou por gestos como o deste dia tão especial.
O Passeio estava divertido como sempre menos para o pequeno R ..desta vez teve receio de ir buscar um pau..todos corriam e brincavam com seus paus mas o R..insistia que a titi é que tinha de ir buscar o dele.Por mais que o incentivasse ir como de todas as outras vezes ,hoje ele nao queria ...
No meio do lamurio do R. o pequeno M para parte o seu pau em 2 e da um GRANDE abraço R e partilha o pau com ele


Meio quilo de Ternura


Meio quilo de Ternura! Ainda "ontem" nem do chão se mexia... Agora só quer conversar,cantar...
Não lhe chamou pelo nome mas de cada vez que o pequeno N... corria ele ficava eufórico e dizia :
- Ca...Ca!
A Tété que terei um dia o prazer de conhecer é todo e qualquer um que lhe fale, simpaticamente chama tété, tété...
Zanga-se porque não quer que o segure , e chorou quando foi passear no carrinho. Protestou todo tempo e ficou zangado!
Tem toda razão ora se aplicamos uma pedagogia livre sem barreiras porque tem ele de ir preso??
Por estes dias temos ido sempre a pé e ele... fica tão feliz que nenhuma dor muscular supera o que ele nos dá  






Never Never Land...........

Nada como uma boa história em Inglês e voar até Never Never Land!







Eiiiiiiiiiii? Malta?!!!!


O dia começa cedo, para alguns tão cedo que vão diretos para seu quartinho descansar ,outros preferem começar logo brincar porque o dia é pequenino em tempo de brincadeira...
Passam 5 mt das 8 mas ele pensa que ja vem tarde, e espreita ver se esta alguém ou se todos já se foram embora para novas aventuras!
Titiiiiiiiiiiiiiiii estão ai?! Eiiiiiiiii malta,já cheguei!
Como poderia eu querer ficar mais um bocadinho a dormir??!!!

Momento "Ser Livre"



Todos os dias a pergunta é sempre mesmo.
Hoje vamos Devesa?
De todos os sitios que vamos este é sem dúvida o de eleição.
Provavelmente pela liberdade que lhes dou desde que se mantenham juntos podem ir...

A brincadeira com a água. as conversas com quem passa!

A pausa merecida numa bela sombrinha, e os sapatos podemos tirar .Podemos,Podemos,Podemos?!
o LAMBUZAR do gelado....









A metodologia Montessori tem como objetivo conseguir que as crianças cresçam livres e felizes, pois as crianças são consideradas a esperança da humanidade.
Mas, quando se considera que uma criança é livre? Quando lhe permitimos fazer tudo o que deseja? Quando não lhe proporcionamos nenhuma regra? Quando respeitamos a sua forma de ser?
Não! Maria Montessori fala de outro tipo de liberdade. Segundo o seu método, as crianças absorvem como esponjas a informação, aprendendo de forma espontânea, da mesma forma como aprendem a gatinhar. 
                 




“Se queres ver uma criança feliz dá-lhe um irmão

lembra-se daquele dia em que puxou os cabelos ao seu irmão e levou um raspanete (merecido) dos seus pais? E daquela vez que o irmão mais novo fez uma asneira e conseguiu de alguma maneira escapar-se e deixar as culpas para si? E das tardes a jogar fosse o que fosse – jogos de bola, de tabuleiro, de bonecos, sobretudo a aprender a negociar, ceder e disfrutar do tempo juntos?
Ainda se lembra de tudo isto? Se sim, aconselhamo-lo a parar imediatamente de ler este texto e a pegar no telemóvel para desejar um feliz Dia do Irmão aos seus. Se é filho único, não se preocupe – ter irmãos nem sempre é um mar de rosas, e os conflitos durante a infânica (e pior, já na idade adulta) tendem a surgir com facilidade.
"Se queres ver uma criança feliz, dá-lhe um irmão. Se queres ver uma criança muito feliz, dá-lhe muitos irmãos". O lema, proferido pelo falecido fundador e presidente da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) e da Confederação Europeia de Famílias Numerosas, Fernando Ribeiro e Castro, dá o mote para a iniciativa promovida pelas duas organizações, que visa estabelecer o Dia dos Irmãos como uma efeméride por direito próprio, comparável aos dias que servem para homenagear a mãe e o pai.
"As relações com os nossos irmãos são das mais marcantes e duradouras que temos", esclarece Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da APFN, ao Expresso, defendendo que faz sentido que este dia exista se já existem tantos outros para celebrar "muitos vínculos". "O dia 31 de maio foi declarado Dia dos Irmãos em 2014, pela Confederação Europeia de Famílias Numerosas, da qual somos associados".
Para provar que os irmãos interessam tanto ou mais do que o resto da família, as duas organizações promovem na Assembleia da República, mas também a nível das instituições europeias, petições para que a efeméride seja oficializada, uma vez que, defende a APFN, "os irmãos são os nossos mais próximos. Crescemos com eles, na família, numa teia de cumplicidade e vivências comuns. O que vivemos entre irmaos é único, irrepetível, molda a nossa vida para sempre". Margarida Gonçalves Neto, psiquiatra e ex-comissária para os Assuntos da Família, acrescenta que "a existência do dia dos irmãos pretende assinalar o mais feliz que podemos ser: irmãos", em crónica publicada no jornal "Público".

ELES TAMBÉM PODEM SER OS NOSSOS PIORES INIMIGOS

Para Cristina Valente, psicóloga e autora do livro "Coaching Para Pais – Estratégias e ferramentas práticas para educar os nossos filhos", as relações com os nossos irmãos podem de facto ser as mais felizes das nossas vidas – mas eles também podem tornar-se "os nossos piores inimigos". "Tudo isto depende da forma como a relação e a competição entre os irmãos for alimentada pelos pais. Se o vínculo for fraco acaba por partir, por exemplo, depois da morte dos pais; se um irmão tiver ciúmes do outro, esse sentimento pode ficar sempre com ele", alerta a escritora em entrevista ao Expresso.
Por isso, o melhor que os pais têm a fazer nos naturais conflitos entre irmãos é, "em 99,9% dos casos", esperar que passe – a não ser que sejam capazes de arbitrar a situação de forma totalmente imparcial e explicar-lhes que devem "desenvolver um consenso e trabalhar em equipa". Se tal não acontecer, "pode haver um efeito nefasto a nível psicológico" porque há "tendência a defender um dos irmãos, que inconscientemente competem para saber qual é o preferido dos pais".

IRMÃOS MAIS NOVOS SÃO MAIS CONTESTATÁRIOS E PROTEGIDOS

Nas relações entre irmãos, a psicóloga confirma que alguns dos mitos que se dizem por aí são mesmo verdade. "Os mais novos são geralmente mais traquinas e protegidos, e os mais velhos costumam ser mais responsáveis". Características que podem ter muito a ver com a formação da personalidade de cada um: "O mais novo pode ser mais contestatário para se distinguir do mais velho, tal como os adolescentes contrariam os adultos para se afirmarem como pessoas independentes. Assim, é normal que o irmão mais novo desenvolva competências em áreas muito distintas para sobressair e ocupar um lugar de destaque na família".
Outra das ideias sobre irmãos que se confirmam é a influência da ordem de nascimento. "Dois primogénitos de duas famílias diferentes podem ser mais parecidos do que dois irmãos da mesma família", explica a psicóloga, esclarecendo que "a educação não é igual para todos os filhos: na primeira vez os pais estão a aprender, a evoluir", e necessariamente agirão de diferentes formas. O que não é razão para não admitirem que "se identificam mais com o temperamento de um dos filhos, o que facilita a sua relação com eles" sem culpas, uma vez que isto não quer dizer que o amor que sentem por cada um seja diferente.
Num aspeto todos concordam: a existência de irmãos é um fator crucial para o desenvolvimento de cada um, uma vez que eles podem ser uma companhia "para a vida toda". A APFN, principal promotora em Portugal do Dia dos Irmãos, concorda: "O que vivemos entre irmãos é único e irrepetível, molda a nossa vida para sempre". As marcas que ficam e a relação que se desenvolve dependerão de cada um e muito da atuação dos pais, que devem intervir de forma sensata na relação entre irmãos e deixando-os "jogar o jogo deles", sublinha Cristina Valente.

29 agosto 2016

A Assutadora IntolerÂncia as Crianças

As crianças são muito bem vindas se não perturbarem um milímetro o bem estar dos outros. Ai das que se lembram de chorar em sítios públicos! Ai delas não. 



Todos concordam que o país precisa de mais bebés, mas poucos cedem um milímetro do seu bem-estar para os ter por perto. Nas ruas, não há lei que resista: temos uma cidadania intolerante a crianças.
“Olha aqueles espertos que trouxeram um bebé só para passar à frente dos outros; isto agora é só truques, se calhar nem é deles”. Foi debaixo deste e de outros comentários bem sonoros que fui atendido há dias, com a minha mulher, no Serviço de Finanças de Picoas, em Lisboa, acerca de uma situação que envolvia ambos. Chegámos antes do abrir da porta, integrámos a fila formada na rua, tirámos senha quando o relógio bateu as 9h da manhã e, tendo trazido a nossa filha por não termos com quem a deixar àquela hora, exercemos o direito à prioridade no atendimento. Tudo normal? Pelos vistos não, já que os insultos não tardaram. E, incontestados pelos restantes, vieram proferidos por quem menos se esperaria – uma senhora com idade para ser avó, elegantemente vestida e, tanto quanto é possível supor, com instrução acima da média.
Foi uma excepção? Nem por isso. Não subestimo a frustração inerente a uma deslocação às Finanças, onde se aguarda horas para enfrentar a cegueira da máquina fiscal. Mas asseguro que o episódio não destoou na substância de muitas outras situações vividas nos meus primeiros meses de paternidade: são raros os que abdicam do seu conforto, da sua prioridade ou dos seus hábitos por uma criança. Isso vê-se nos centros comerciais, onde jovens insuflados pelo ginásio recusam as escadas rolantes e não concedem passagem aos carrinhos de bebé nos elevadores – eles chegaram primeiro, eles usam primeiro. Isso encontra-se nas esplanadas onde, depois da difícil tarefa de encaixar o carrinho de bebé entre mesas e cadeiras, pedir ao vizinho do lado que não fume para cima da criança rebaixa-nos a hereges. Isso sente-se nos restaurantes (sobretudo no eixo da Baixa-Chiado), onde o choro de um bebé perturba a coolness e merece a incompreensão geral dos clientes. E tudo isso se alastra a praias, museus e jardins. As crianças são encantadoras? Sim, claro. No Facebook, em casa ou arrumadas no seu cantinho silencioso.
É oportuno sublinhar que isto se passa num Portugal que elegeu como causa nacional o combate à queda demográfica. Onde reina um consenso político quanto à necessidade de proporcionar melhores condições (financeiras, laborais, fiscais) a quem tem filhos. Onde, ainda recentemente, se assinalou com pompa uma ligeira subida na taxa de natalidade. Mas, também, no Portugal onde causas e consensos poucas vezes conseguem furar a esfera do abstracto e do imaterial. Afinal, a natalidade penetra indirectamente no debate público através dos assuntos económicos. Seja por via da chamada de atenção para o desequilíbrio da balança da Segurança Social ou por via da necessidade de afirmação da economia portuguesa – com mais nascimentos hoje, será amanhã mais fácil dinamizar a economia e tornar sustentável o Estado Social. E isso, para o dia-a-dia de cada um, tem tanto significado como as centenas de notícias sobre o défice orçamental: zero. Na teoria, há anos que todos se preocupam, mas na prática isso não impediu que tivéssemos de solicitar auxílio à troika.
O ponto que sobressai é que, na sociedade em geral, quando as metas da natalidade assentam um pé na realidade das ruas, os consensos nacionais estilhaçam-se. Todos concordam que o país precisa de mais crianças, mas poucos aceitam ceder um milímetro do seu bem-estar para as ter por perto. Nem sequer um lugar numa fila. A quem optou por ter filhos, os olhares públicos exigem que os assumam sem intromissões ou ruídos, para que nenhum gesto interfira com os outros à volta. O que, como se sabe, não é possível. Dizer, portanto, que as crianças estão abaixo de cão não é, aqui, um eufemismo – é que, em muitos sítios, tolera-se mesmo melhor um cão do que um bebé.
Ora, estas duas posições – a teórica de querer maior natalidade e a prática de não tolerar bebés – são obviamente incompatíveis. E, como acontece sempre, a prática tem-se imposto à teoria. Podemos, pois, escutar vários e plurais apelos à natalidade que, no concreto, a sombra permanecerá: querem-se mesmo mais bebés? Parece que não. A legislação e os partidos até podem defender que sim – e é fundamental que, na medida do possível, o proporcionem. Mas, nas ruas, não há lei que resista a esta realidade: a de uma cidadania intolerante a crianças.
Continuar a ler 

21 agosto 2016

Dança ...Dança Sempre!



Não é o ritmo nem os passos que fazem a dança. Mas a paixão que vai na alma de quem dança




Quem vem para o almoço?

Quiseram brincar restaurantes e enquanto decidiam o que iriam cozinhar, eu sugeri que preparassem alguns legumes. estava eu longe de imaginar a conversa deliciosa que com que me iriam brindar.
.

O pequeno Rodrigo questiona : Titi não gostas de carne pois não?
Titi , sim Rodrigo eu não como carne nem peixe.
O Nuno intervém: A Titi é "Begetariana"
O Matias não quis ficar indiferente e prontamente explicou:A minha tia ja me disse que é "begetariana" ela não come carne nem peixe alguns crescido são assim ( desata numa gargalhada) e conclui só podem ser parvos porque os Bevetarianos nao comem gomas que a mim tia ja me disse.
Eu não quero ser Begetariano!





Educação Rodoviária


Elas não conduzem veículos, mas também andam na estrada
Na qualidade de peões, o importante, antes de mais, é verem e serem vistos. Escolher o passeio no sentido contrário ao do trânsito, vestir roupas chamativas, ou mesmo refletoras e optar pelos percursos mais seguros, mesmo que sejam mais longos, são boas estratégias de segurança

....eles estavam dispostos conseguir!





È mesmo verdade ficamos sem copos ( de vidro) enquanto não são substituídos vamos usando os que temos.Não é que os copos sejam o problema a estratégia é que era a errada.A cada tentativa a mesa e o chão transformavam-se num rio ,mas vi-o como um rio de aprendizagem. Incentivei-os procurar forma de conseguirem o Pequeno N... estava disposto a continuar ele sabe que é nos erro que se aprende. O M achou que se segurasse no copo ele nao ia cair e prometeu fazer muita muita força eles estavam dispostos conseguir! E conseguiram mesmo...






19 agosto 2016





“Se sou eu o adulto na relação, preciso saber lidar com minha emoção e ajudá-la a reconhecer e lidar com sua emoção.
A educação acontece quando sou amigo das crianças. Então a relação e tem outro olhar: de aceitação, de legitimar o outro, de não-julgamento. E a criança percebe isso. Estar presente na brincadeira, estar presente junto ao outro, aceitar o outro como ele é, estar inteiro no aqui e agora, contato, presença… são atitudes raras em nossa cultura.” ( antroposofy_Educador de almas)

Obrigada por tudo que me ensinam♥

Aos bocadinhos eles vao pedindo ,o que querem na nossa escola...

Apareceram 3 paredes riscadas por sinal com mensagem que so eles percebiam .

Sabes nos deviamos ter parede para escrever ,é divertido riscar paredes ...

Assim seja.

Obrigada por tudo que me ensinam♥

Hipervalorização da Infância

Por Fabiana Santos
O pediatra Daniel Becker é o criador da Pediatria Integral: um conceito de que a criança precisa ser vista de forma mais abrangente. Não é apenas tratar e prevenir doenças, mas cuidar do bem estar emocional, social e até espiritual da criança e da família. São 20 anos de experiência de consultório no Rio de Janeiro. Formado pela UFRJ, ele é especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ, ele foi pediatra da Médicos sem Fronteira em campos de refugiados na Ásia e fundador de uma ONG, o CEDAPS, Centro de Promoção da Saúde, com atuação em comunidades carentes.
Becker é um apaixonado pela profissão e conta que ao olhar sua trajetória se diz satisfeito pelas escolhas que fez. Ele é separado, pai de dois filhos, um menino de 17 anos, roqueiro, e uma menina de 20 anos, psicóloga. “Eles são muito bacanas. Tenho muito orgulho deles”, diz o médico. Com tantos compromissos, entre palestras e consultas, ele abriu gentilmente um espaço na agenda para responder às minhas perguntas.

1.Na sua palestra no Ted, você diz que um dos pecados contra a infância é a “entronização”. O que isso significa? Estamos colocando nossas crianças em um trono?

A gente vive em tempos de hipervalorização da infância tanto pela mídia quanto pretensamente pela família e pela sociedade. Mas na verdade a infância é desvalorizada naquilo que ela tem de real, na sua essência. Um dos fatores que explica esse paradoxo é a falta de intimidade e de convivência entre pais e filhos por causa das questões da vida moderna. E quando estão juntos, os pais não conhecem essas crianças, não sabem lidar com elas. Estão estressados com os seus trabalhos, estão viciados nos seus telefones e não querem também se submeter à desaprovação social de uma criança que chora ou se comporta mal. Acaba que essa criança não tem direito de se manifestar de forma negativa, que faz parte do comportamento infantil. Ela não pode fazer uma birra, dizer “não”, chorar, explorar seus limites de atuação no mundo. Como os pais não sabem lidar com essas situações, a criança acaba tendo todos os seus desejos realizados, não lhe colocam limites, não lhe dizem que ela tem que lidar com a frustração. A gente quer calar a qualquer custo o mal estar. Então para parar com o chilique, a gente acaba cedendo. Ao invés de aprender as regras de convivência, a criança passa a ser uma rainha que dita as normas, os programas, os horários.

2.E o pecado que você chama de “superproteção da infância”?

A superproteção é impedir que as crianças tenham suas próprias experiências. A gente está presente o tempo todo, aquilo que os americanos chamam de “helicopter parent”, pais que ficam flutuando em torno das crianças fazendo com que elas não tenham a experiência do mundo, justamente porque os pais se interpõem entre o mundo e a criança. Elas ficam impedidas de lidar com o risco, com a aventura, com as relações interpessoais, com os problemas da escola, com a dor, com os machucados. Se a criança tem um problema com uma outra criança, os pais se interpõem para resolver a questão, no playground não deixam ela se arriscar a subir mais alto no trepa-trepa. É claro que ninguém quer que o filho quebre um dedo ou receba um ponto, mas são experiências da infância. A criança tem que ter a experiência do risco, do machucadinho e da frustração. Outra coisa muito grave é que para evitar os perigos do mundo, as famílias ficam muito em casa, se expõem pouco à natureza, as praças e as praias. Os riscos desses lugares existem e temos que lidar com eles, pois fazem parte da vida.

3. Qual o prejuízo real para crianças que não sabem ouvir a palavra “não”? O que vai ser (ou já está sendo) dessa geração sem limites?

Eu já vi criança dormindo às duas da manhã, já vi criança de dois anos que comanda o que tem na geladeira e no armário da despensa. Outras que determinam o programa da família nos fins de semana, se elas não querem sair, ninguém sai. Pais que deixam a criança de 3 anos ficar horas na televisão porque não sabem desligar o aparelho e deixar ela ficar frustrada. Criança que come o biscoito ao invés da comida, que ganha o presente depois de ter se jogado no chão do shopping. Isso tudo causa um prejuízo enorme, tanto na qualidade de vida dessa família, quanto na psiquê, na emocionalidade dessa criança. Ela precisa saber que a sua vida tem limites, que a sua influencia tem limites, que o mundo não gira em função do seu umbigo. Muitos meninos e meninas dessa geração vão levar isso para a vida adulta e não só terão dificuldades de convívio como vão quebrar a cara nos seus ambientes de trabalho e em relacionamentos interpessoais. Porque nem sempre a vida vai acolher esse tipo de onipotência que é resultado de uma educação cheia de falhas nesse sentido.

4. A culpa que os pais carregam é a grande vilã nessa história?

Eu tenho muito medo da gente restringir a questão à responsabilidade da família. A família é responsável sim, tem que saber lidar com a frustração, o choro, as emoções negativas da criança, tem que saber mostrar a ela que esses momentos passam, que estas situações vão deixar ensinamentos importantes. Os pais sentem culpa porque não estão presentes na vida dela e quando estão juntos querem dar coisas demais. A gente briga com essa história de dar presente, ao invés de dar presença. Muitas vezes o tal “deficit de atenção” é deficit de atenção de pai e mãe que a criança sofre. Mas a gente tem que justamente tomar muito cuidado para não piorar isso dizendo que os pais são os culpados porque o que leva a tudo isso é a vida moderna, é a perda de referências, é a falta de capacidade de aprender com as gerações anteriores, com a experiência dos outros, é a invasão do tempo de trabalho e do tempo de entretenimento no tempo em família, é o vício do smartphones. Tudo isso tem que ser pesado na compreensão desse fenômeno da entronização e da superproteção da infância, a gente não pode restringir a responsabilidade e nem as soluções apenas a nível familiar.

5.A justificativa sincera de muitos pais é de que eles fazem o melhor que podem, trabalham o dia todo, batalham para dar conforto aos filhos, chegam exaustos em casa. É até mesmo controverso: as pessoas querem ter filhos mas não conseguem ter tempo de conviver com eles. Como resolver este impasse?

As pessoas querem ter filhos e imaginam que tudo vai ser um mar de rosas. Elas têm que ter consciência de que vão ter filhos neste mundo em que vivem: nas grandes cidades, muitas vezes com a falta de presença de familiares, com trabalhos que demandam excessivamente, com transporte que fazem elas chegarem tarde em casa, isso tudo tem que ser incorporado por um casal quando eles planejam filhos. Planejar ter filho é ver o futuro. Claro que a maioria das pessoas não faz isso, a gente quer ter filho, a gente quer reproduzir a nossa própria genética, isso faz parte de um mandato biológico. Mas hoje em dia a gente tem que pensar nas condições de vida que essa criança vai nascer e como nós vamos dedicar o nosso tempo a ela. Isso faz parte da responsabilidade de um casal. É preciso planejar a carreira, o local de trabalho para que a convivência familiar seja maximizada, para que a criança cresça com a presença dos pais, dos avós, tios, primos. Escolher um lugar para morar com natureza por perto. De novo a gente não pode reduzir a solução deste impasse a nível da família, a gente tem que tentar pensar na sociedade como um todo. A sociedade brasileira é insegura, desigual e cheia de problemas e isso influencia nas condições de vida das famílias.

6.O video americano “Childhood is not a mental disorder” já deu o que falar sobre o uso exagerado de remédios em crianças para controlar “doenças do comportamento”? Você concorda que é preciso ter muito cuidado com os diagnósticos?

Eu gosto muito desse vídeo e ele traz mesmo uma dimensão terrível do que a sociedade está fazendo com a infância. O mercado pressiona a família por soluções fáceis, todo mundo quer resolver os problemas imediatamente. A energia da criança está sendo reprimida. É claro que o comportamento dela vai ser muito afetado por todas as questões que eu já citei, podendo se rebelar, ter insônia, desatenção, brigar na escola, ser impulsiva. Em vez da gente repensar como oferecer a estas crianças uma infância melhor, mais saudável, mais verdadeira, o que o mercado propõe é que elas sejam medicalizadas. A indústria de diagnósticos e de remédios é monstruosa e crescente. No Brasil, a Ritalina é o principal remédio usado para criança. Em 10 anos a venda de Ritalina subiu de 75 mil caixas para 2 milhões de caixas. O Ministério da Saúde agora está estabelecendo uma regulação para a venda do remédio. A gente não pode negar que essas doenças existem, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma doença grave, mas ela atinge um pequeno número de crianças. A grande maioria desses diagnósticos está sendo feita de forma arbitrária, sem critério suficiente, eu diria até perversa. É preciso mudar o comportamento da família ou ir para psicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, que são benéficas para este tipo de problemas e poderiam ser tentadas antes e de forma mais eficaz. Porque o remédio vai ter efeitos colaterais, vai rotular esta criança, como o video expõe muito bem, vai colocar na cabecinha dela que ela é apenas um transtorno e não uma criança que tem potencialidades múltiplas e possibilidades infinitas para o seu futuro. Tem a historia de uma mãe que levou a filha ao pediatra porque achava que ela tinha problemas e o pediatra deixou a criança com uma música e saiu da sala por alguns minutos com a mãe. Eles ficaram observando a criança do lado de fora, enquanto ela dançava o tempo todo. E o pediatra disse: “Sua filha não tem um problema, sua filha é uma bailarina, leve-a para uma aula de ballet e vão ser felizes”. Gillian Barbara Pyrke, a menina da historia, se tornou uma famosa coreógrafa da Broadway. Quantos gênios, artistas, cientistas nós não estamos perdendo medicando e rotulando essas crianças?